Para as empresas que queiram promover o bem-estar e saúde mental dos trabalhadores, há um guia que lhe dá os passos a seguir.
Ambientes de trabalho pouco saudáveis e geradores de stress continuam a ser uma realidade persistente nas empresas. Isto diminui a produtividade dos trabalhadores, comprometendo o
sucesso das empresas.
Então, cabe às empresas fazer alguma coisa. Para isso, a Fundação José das Neves (FJN) lançou um guia para as empresas, para que saibam promover o bem-estar e saúde mental dos seus trabalhadores.
5 recomendações que podem ajudar
1. Reconheça a importância da saúde mental
Há uma relação estreita entre o bem-estar mental dos trabalhadores e a sua prestação no local de trabalho.
Então, o mal-estar e a falta de saúde mental dos trabalhadores podem conduzir a um decréscimo na produtividade da empresa.
Isto pode traduzir-se numa capacidade de produção cinco vezes inferior ao que seria alcançável se a mesma empresa tivesse um ambiente de trabalho saudável.
2. Avalie os riscos sociais e psicológicos da sua empresa
O reconhecimento dos fatores que poderão enfraquecer o ambiente de trabalho da empresa, o bem-estar e a saúde dos seus trabalhadores é o ponto de partida para a mudança.
Então, avalie os recursos e pontos fortes da sua empresa, mas também os pontos fracos e os riscos a que está sujeita.
3. Esteja atento aos sinais de alerta
Stress ocupacional, burnout, depressão, ansiedade, absentismo e presentismo são alguns dos resultados mais comuns da falta de investimento na saúde mental por parte das empresas.
Assim, aprenda a identificar os sinais e fontes de risco psicossociais.
4. Atue e lídere pelo exemplo
A velha máxima de “o exemplo vem de cima” também se aplica neste caso.
Então, estabeleça relações positivas com os trabalhadores e privilegie a comunicação entre todos, fomentando a entreajuda (peça ajuda e auxilie sempre que necessário).
Além disso, promova ações de sensibilização de bem-estar e ofereça aos trabalhadores oportunidades para cuidarem de si, física e mentalmente.
5. Transforme o ambiente da sua empresa
Três palavras chave: diagnosticar, investir e avaliar:
- Diagnostique os problemas que prejudicam os seus trabalhadores do ponto de vista social e psicológico;
- Invista na saúde mental dos trabalhadores;
- Avalie o impacto da transformação no funcionamento da empresa.
Estas três fases de mudança organizacional representam um passo adicional em direção a uma gestão empresarial mais eficiente e com trabalhadores mentalmente mais saudáveis.
O que é um ambiente de trabalho saudável?
Segundo a OMS, “um ambiente de trabalho saudável é aquele onde empregadores, gestores e trabalhadores contribuem de forma ativa, sustentável e contínua para o processo de proteção e promoção da saúde, segurança e bem-estar de todos”.
Então, para a Organização Mundial de Saúde, um ambiente de trabalho saudável tem por base quatro pilares:
- O ambiente de trabalho físico: fatores com impacto na segurança física e saúde física e mental dos trabalhadores;
- O ambiente de trabalho psicossocial: atitudes, valores, crenças e práticas quotidianas empresariais;
- Recursos de saúde: acesso a informação e serviços para a prática de estilos de vida saudáveis;
- Envolvimento da empresa na comunidade: criação de postos de trabalho, prestação de serviços, produtos produzidos, bem como o ambiente físico e social da comunidade.
Sinais da falta de bem-estar no local de trabalho
Há diversos indicadores da falta de bem-estar no local de trabalho, como:
- Maior envolvência em conflitos com os colegas de trabalho, empregadores, diretores e/ou chefia;
- Alterações no humor, maior irritabilidade ou raiva, frustração, tristeza, ansiedade e/ou stress;
- Sinais físicos de cansaço ou de manifestação de doença;
- Menor envolvimento nas atividades de trabalho;
- Maior isolamento, muitas vezes generalizado do contexto profissional para o pessoal;
- Maior dificuldade em cumprir prazos ou apresentar os mesmos resultados ou produtividade;
- Evitamento de certas tarefas e atividades profissionais;
- Ausências (justificadas ou não) ao trabalho mais frequentes que o habitual.
Ambiente laboral com riscos psicossociais vs ambiente saudável
Abaixo pode ver o exemplo de duas empresas, em que a Empresa 1 apresenta um ambiente laboral com vários riscos psicossociais e a Empresa 2 um ambiente empresarial saudável.
Neste exemplo, a Empresa 1 mostra um conjunto de sinais de alerta a que os empregadores e
gestores devem estar atentos.
Investir na saúde mental dos trabalhadores compensa
A Ordem dos Psicólogos Portugueses agrupou um conjunto de valores que clarificam o impacto dos riscos psicossociais do nível do trabalhador até ao nível societal.
Por exemplo, numa empresa composta por 700 trabalhadores, 48 desenvolveram depressão devido a riscos psicossociais. Para a empresa isto implica: perdas de produtividade, despesas em cuidados de saúde e outros custos.
Então, num ano, isto representa uma perda de cerca de 500 mil euros para a empresa!
empresas portuguesas são as que menos apostam no bem-estar dos trabalhadores
A nível do bem-estar dos trabalhadores, as empresas portuguesas apostam menos nisto do que a média europeia.
No Inquérito Europeu às Empresas Sobre Riscos Novos e Emergentes (ESENER), em 2019, a percentagem de empresas portuguesas com planos de ação e procedimentos para combater diversos problemas de saúde mental estava abaixo da média da UE.
- 18,2% tinham planos de ação para combater o stress laboral, para 34,6% da média europeia;
- 42,8% tinham procedimentos para lidar com ameaças, insultos ou agressões, para 52,6% da média europeia;
- 41,6% tinham procedimentos para lidar com casos de bullying ou assédio, para 46,3% da média europeia.
Ainda de acordo com o ESENER, em Portugal, o principal obstáculo à gestão eficaz dos riscos psicossociais é a falta de sensibilização para esta temática.
Então, é fundamental que as empresas invistam mais na literacia e promoção da saúde mental e envolvam os trabalhadores nestes esforços.
Como investir no bem-estar e saúde mental dos trabalhadores?
Há práticas simples que pode implementar, como:
- Criar locais de descanso e lazer para os trabalhadores usufruírem durante as pausas;
- Permitir intervalos de 5 a 15 minutos durante o dia de trabalho e autonomia para definirem horários de almoço e as restantes pausas;
- Oferecer 20 minutos de ginástica laboral, 1 a 2 vezes por semana;
- Fomentar a escuta ativa e de um discurso mais compreensivo. Perguntas que podem ajudar: “Como está? Como se sente hoje? Em que posso ajudar?”;
- Oferecer psicoterapia, meditação ou outras formas de promoção da saúde mental, por exemplo, parcerias com ginásios;
- Realizar reuniões mais individualizadas e pontos de situação frequentes para a equipa ou para trabalhadores específicos;
- Promover encontros informais e reconhecer publicamente o bom trabalho da equipa.
Pode consultar o estudo na integra aqui.
Sabia que…
- Empresas que investem na saúde mental dos colaboradores podem ter um retorno económico 9 vezes superior;
- Na Europa, a falta de saúde mental custa anualmente cerca de 240 milhões de euros (136 milhões correspondem a perdas de produtividade e 104 milhões a despesas com o tratamento);
- Os trabalhadores passam cerca de 12 dias por ano no trabalho sem conseguirem ser produtivos;
- Portugal é o 4º país europeu onde os trabalhadores trabalham mais horas;
- Cerca de 70% das pessoas com problemas de saúde mental recuperam totalmente.
Em suma, não há sucesso empresarial sem bem-estar e saúde mental dos seus trabalhadores. O maior valor das empresas é o capital humano e as pessoas que nelas trabalham.