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É cada vez maior o número de Portugueses a tentar a sua sorte no Brasil. E não admira num país que tem tido uma fase de forte crescimento económico, que partilha connosco a língua Portuguesa e que é também conhecido por um estilo de vida singular. Mas nem tudo são rosas, e é importante desmistificar eventuais ideias pré-concebidas: encontrar emprego no Brasil não é tão fácil como se possa pensar, o mercado é extremamente competitivo e nem sempre compensa ir trabalhar para o Brasil, já que o custo de vida é altíssimo e com tendência para subir.

Fomos falar com dezenas de Portugueses que estão a viver e trabalhar no Brasil e pedimos-lhes para partilharem conselhos com quem queira ir trabalhar para o Brasil. Esta é uma selecção das melhores dicas, vindas de quem têm experiência própria, conhece bem a realidade local e já passou pelo mesmo.

1) Ter noção que vai ser preciso tempo, e ser paciente

É raro todo o processo de procura de emprego demorar menos de 4 meses. Entre candidaturas, entrevistas e vistos, vai certamente demorar até começar efectivamente a trabalhar. É importante perceber que no Brasil os processos de recrutamento são longos e burocráticos e que, como tal, é importante ser paciente, não ter pressa e estar preparado para esperar com tranquilidade e confiança.

Além da vantagem de contratar um profissional estrangeiro nem sempre ser óbvia para as empresas Brasileiras, o processo dos vistos não costuma demorar menos de 2 meses. Deve evitar sentir ansiedade e ter muita paciência para um processo que vai demorar, vai dar trabalho e vai ser desafiante.

2) Começar antes da “época alta” e fazer trabalho-de-casa

A melhor fase de recrutamento no Brasil é Março (equivalente à fase de Setembro em Portugal). É útil começar a preparar terreno durante o Natal, Ano Novo e Carnaval, para depois colher os frutos na fase em que há de facto mais oportunidades. Se começar a procurar em Portugal, referir nas candidaturas as datas em que vai estar no Brasil para entrevistas.

Mais importante, o melhor mesmo é começar a fazer trabalho-de-casa ainda em Portugal. Assim, deve começar a posicionar-se antes de chegar ao Brasil e procurar estabelecer contactos directos e personalizados através do Linkedin, começar a procurar empregos online e falar com amigos ou conhecidos que já lá estejam.

3) Ter consciência que o mercado é muito competitivo, e que não vai ser fácil

O mercado Brasileiro é altamente competitivo e as entrevistas de emprego são exigentes. É necessário estar muito bem preparado. Ter algum conhecimento da realidade local (aspectos macro-económicos, realidade Brasileira ou aspectos técnicos específicos do país), é sempre um bom ponto de partida.

Há muitos Brasileiros muito bem qualificados pelo que a concorrência é forte e naturalmente mais bem posicionada (os locais não tem entraves a nível de vistos, por exemplo). Por outro lado, têm normalmente muita experiência de trabalho: o Brasileiro qualificado “típico” começa a trabalhar no segundo ano da universidade, logo aos 19 ou 20 anos. Assim, quando acaba a universidade já tem vários anos de experiência relevante, competências verdadeiramente úteis e rede de contactos.

4) Perceber se a sua área tem saída no Brasil

Antes de tentar a sua sorte, convém perceber quais as suas possibilidades no Brasil. Para isso, nada como perceber as áreas em que os Portugueses tem mais saída profissional. Quanto mais forte for a especialização e componente técnica, melhor. Há partida, os profissionais mais bem qualificados tem melhores possibilidades.

Assim, há actualmente vários profissionais com experiência em banca de investimento e consultoria ou gestores com MBA a trabalhar no Brasil. Em Marketing, por exemplo, não é tão fácil, visto ser uma área em que o Brasil tem muita qualidade. Já todo o tipo de engenharias ou arquitectos, projectistas e outros técnicos associados à construção civil têm tipicamente boas hipóteses, visto serem áreas onde há muita procura por profissionais qualificados.

5) Poupar dinheiro para viver durante a procura de emprego

É importante perceber que o nível de vida em cidades como São Paulo ou Rio de Janeiro é bem mais caro do que em Portugal. Despesas em alojamento e alimentação tendem a ser muito elevadas. Como o mais provável é passar vários meses à procura de emprego, há que fazer poupanças antes de ir.

Para dar alguns exemplos, é raro encontrar-se vôos de ida e volta a menos de 1.000€ e alugar um quarto no Rio de Janeiro ou São Paulo quase nunca custa menos do que 400€ ou 500€ por mês. Por outro lado, dificilmente se gasta menos de 25€ a jantar fora. Faltam os transportes, alimentação e outras despesas inevitáveis.

Se é para ir para o Rio de Janeiro ou São Paulo, então é bom que tenha a conta recheada com pelo menos 7.000€ (1.000€ do vôo e 1.000€ mensais durante 6 meses). Noutras cidades o custo pode ser substancialmente inferior.

Nota: estes valores são uma referência geral para o câmbio actual (1€=3 reais). Há sempre o risco cambial, e eventuais oscilações têm impacto nestes números.

6) Preparar a chegada

É importante saber onde vai ficar a viver. Se não conhece ninguém que o aloje nos primeiros tempos, então é melhor pensar em alojamento temporário (hostel, pensão ou hotel). Há também a possibilidade de couch surfing. Depois, começa a aventura de encontrar casa/quarto. Em algumas cidades, como o Rio de Janeiro ou São Paulo, o ideal seria comprometer-se com apartamento apenas quando já sabe onde vai trabalhar. Caso contrário, corre o risco de ter de fazer longas deslocações diárias todas os dias. É também interessante saber que para arrendar apartamento, lhe exigem normalmente contratos de fidelização longa e fiadores Brasileiros, o que pode dificultar as coisas.

Outra óptima ideia é tentar encontrar trabalho numa loja, bar ou restaurante para estar mais tranquilo enquanto procura.

7) Fazer as contas antes de partir

Como já se percebeu, o custo de vida no Brasil é muito caro. Portanto não basta encontrar um emprego, é preciso encontrar um emprego seja bom e bem pago. Caso contrário, talvez o melhor seja ficar em Portugal, onde, mesmo que ganhe menos, pode conseguir ter um estilo de vida melhor e poupar mais.

8) Ir para o Brasil (se estiver decidido a arriscar!)

Se é difícil encontrar emprego no Brasil, então à distância é ainda mais complicado. Se quer emigrar para o Brasil, é muito importante “mandar-se” e estar no local. Ao fazê-lo não só pode estabelecer contactos como também  ir “bater à porta” das empresas. Por outro lado, sinaliza às empresas que está de facto apostado em trabalhar no Brasil e terá maior facilidade em fazer follow ups.

9) Perceber que no Brasil se trabalha.. e muito!

Se pensa que vai para o Brasil só para ir para a praia, curtir a festa e beber chopinhos e água de côco (Rio de Janeiro) ou aproveitar as discotecas e restaurantes cosmopolitas (São Paulo), desengane-se. Há isso tudo mas no Brasil trabalha-se, e muito! Com o mercado em forte crescimento, o ritmo de trabalho tende a ser muito exigente, com muitas horas diárias de trabalho. Por outro lado, as leis laborais fazem com que não seja assim tão difícil despedir um trabalhador, pelo que mesmo com emprego, o melhor mesmo é “pedalar”.

10) Compreender que vai ser preciso um visto (o grande desafio!)

A menos que tenha descendência Brasileira (nesse caso, tente tratar dos documentos ainda em Portugal, mesmo que não tenha nascido no Brasil), vai precisar de um visto de trabalho. Este é provavelmente o maior desafio de todos. Muitas empresas não estão dispostas a fazer o investimento e outras simplesmente não estão familiarizadas com o processo nem minimamente preparadas para o fazer. Para trabalhar no Brasil, as empresas têm que provar que não há outro Brasileiro mais bem qualificado e o trabalhador tem que receber acima da média local para uma função semelhante (custos estes agravados pelos elevados impostos pagos).

Assim, mesmo quando têm empresas que gostaram de si e estão interessadas no seu perfil, é comum ir tudo “por água abaixo” quando chega a questão do visto. Mesmo quando a empresa quer e pode avançar com os vistos, o processo costuma demorar pelo menos 2 meses. Após serem submetidos os vários documentos, o processo em si tende a levar 30 a 40 dias. Convém também saber que há empresas especializadas que cobram geralmente 4.000 reais por todo o processo mas optimizam a possibilidade de tudo correr sem problemas.

Pode começar como turista e ficar até 180 dias (90, prorrogáveis por mais 90), consecutivos ou não, em cada ano e a contar do dia da entrada inicial. Depois disso, só pode permanecer desde que tenha um visto. A tendência é que estes prazos se reduzam no futuro.  Para as empresas não estarem meses à espera, muitos profissionais na prática começam a trabalhar “não oficialmente” – o que não é assim tão grave, a menos quando o “não oficial” se arrasta, o que não é assim tão raro e pode ser problemático.

Existem vistos temporários de 2 anos (renováveis por mais 2 anos, e que no quarto ano se tornam definitivos – comuns para a maioria dos profissionais qualificados), vistos permanentes (é preciso já ter um certo nível de senioridade e ser nomeado por uma empresa estrangeira com uma filial no Brasil) ou vistos de investidor.

11) Apostar nas grandes empresas ou multinacionais

Algumas grandes empresas ou multinacionais estão mais habituadas a lidar com o processo dos vistos, tendo também maior propensão para contratar estrangeiros. No caso de empresas mais pequenas, a questão dos vistos tende a deitar tudo a perder.

12) Explorar oportunidades junto de empresas Portuguesas com actividade no Brasil

Além da afinidade cultural, as empresas Portuguesas estão obviamente mais familiarizadas com os profissionais Portugueses e conhecem bem a sua competência e talento. Por esta razão, é sempre um bom ponto de partida começar por explorar oportunidades junto de empresas Portuguesas que estejam presentes no mercado Brasileiro (se procurar no Google, vai ver que não é assim tão difícil encontrar informação).

13) Procurar fora de São Paulo e Rio de Janeiro

A maioria dos Portugueses sonha em viver no Rio de Janeiro ou São Paulo. Mas o Brasil é enorme, e há muito mais cidades com muitas oportunidades, menor concorrência e menor custo de vida. Sair das cidades mais concorridas pode fazer a diferença na procura de emprego e até no nível de interesse em viver no Brasil. Em cidades menos “sexys” como Belo Horizonte, Recife, Campinas, Curitiba ou outras, pode ser mais fácil conseguir emprego e o custo de vida é significativamente inferior. Já em termos salariais, a diferença não é tão significativa.

Assim, um dos grandes erros dos Portugueses é não estarem dispostos a viver noutras cidades que não Rio e São Paulo.

14) Saber vender-se

No Brasil as empresas não conhecem a sua Universidade nem as empresas onde trabalhou. A familiaridade é menor e a qualidade dos CVs não é tão directa nem óbvia para as empresas Brasileiras. Vai ter de fazer valer-se por si próprio e conseguir mostrar o seu valor acrescentado. Assim, é melhor aprender a vender-se e saber posicionar-se no mercado de trabalho.

15) Destacar as competências técnicas

Quanto mais específica for a formação da pessoa melhor, tanto para conseguir emprego como visto. Um engenheiro ou contabilista tem sempre mais facilidade em conseguir emprego e/ou visto que um gestor/ou economista. Deve procurar destacar as suas competências mais técnicas e específicas, porque estas podem valorizar-lhe em muito o CV.

Por outro lado, dominar línguas como o Espanhol, Inglês, Francês ou Alemão também pode ser diferenciador.

16) Trabalhar o factor QI (Quem Indica)

É essencial construir uma rede de contactos no Brasil. Se em Portugal ajuda ter o contacto/referência certa, no Brasil é ainda mais importante. O factor QI (Quem Indica) é tão importante, que muitas vezes as próprias empresas perguntam se conhece alguém dentro da empresa. O mercado é bastante informal pelo que vale a pena investir numa boa rede de contactos (Portugueses a trabalhar no Brasil, Brasileiros ou outros estrangeiros). O Linkedin é muito utilizado e uma boa ferramenta na procura de emprego (exemplo: perguntar a recrutadores se existem vagas na sua área).

Obviamente, quanto mais de cima vier o QI, melhores os resultados.

17) Ser sociável

Outro aspecto que tem muita importância é ser simpático e mostrar que é uma pessoa com facilidade em relacionar-se tanto no trabalho como na vida pessoal. Se as relações são importantes, o à-vontade e as competências sociais são essenciais para as construir. Já que o Brasileiro é um “animal social”, por mais que contactos “digitais” que faça (via email ou Linkedin), é sempre importante agendar contactos “reais”. Se for preciso, vá bater à porta dos potencias empregadores a pedir uma entrevista ou uma simples conversa de corredor.

18) Ser persistente e ir atrás

Os brasileiros são tipicamente muito simpáticos mais pouco comprometidos. Mesmo quando alguém se compromete com uma entrevista, é essencial ir atrás e fazer follow up porque, caso contrário, podem só lembrar-se de si 1 ou 2 meses mais tarde. Como o interesse é seu, é essencial “estar em cima” e certificar-se que faz tudo ao seu alcance.

19) Falar um Português que os Brasileiros percebam (ou melhor, entendam!)

É muito importante falar devagar e com um pouco de sotaque nas entrevistas. Mesmo que fale um Brasileiro com sotaque de novela, não parta do principio que o vão entender (por exemplo, um Brasileiro não percebe, só entende). Como esta, há muitas outras diferenças de vocabulário.

É essencial certificar-se que consegue comunicar e que a proximidade das línguas joga a seu favor.

20) Ter cuidado com a imagem

O Brasil é um dos países com maior apetência para as marcas de luxo a nível mundial. Não é por acaso. Num país com tantas discrepâncias sociais e económicas é frequente as pessoas diferenciarem-se pela sua imagem. Assim, deve procurar ter uma imagem e vestuário adequados e evitar que eventuais preconceitos funcionem contra si. Se puder, quando for a entrevistas, evite ir de transportes públicos em hora de ponta visto que pode chegar amarrotado e com um odor pouco agradável.

Por outro lado, fumar não é muito bem visto no Brasil e, por isso, deve evitar ir a cheirar a tabaco para entrevistas.

21) Aproveitar a comunidade Portuguesa no Brasil

Há muitos Portugueses no Brasil que tem experiência local e sabem como as coisas funcionam. São receptivos, solidários e estão dispostos a ajudar, até porque já passaram pelo mesmo no passado. Há que saber aproveitar a comunidade Portuguesa. Sem ela, este artigo não seria possível.

Há vários grupos no Facebook que além de publicarem várias oportunidades de trabalho, têm membros solícitos a responder a todo o tipo de perguntas sobre vistos, aluguer de casas ou contactos.

22) Tirar uma pós-graduação

Estudar no Brasil é uma óptima oportunidade para conhecer pessoas, criar uma rede de contactos locais (alunos e professores) e também ficar com um “selo de qualidade” local. Muitos Portugueses que tem a possibilidade de optar por esta via, conseguem depois mais facilmente um emprego.

 

Muito obrigado a todos os que contribuíram para este artigo, pelo seu tempo e atenção.

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