Covid-19 existem empresas que estão a recusar contratar mulheres

Ainda que a lei condene a discriminação por género no acesso ao trabalho, existem empresas que estão a recusar contratar mulheres devido à Covid-19.

Esta observação vem de quem está a apoiar empresas em processos de recrutamento e seleção de recursos humanos. O tele-trabalho está a levar muitas mulheres ao limite da exaustão por terem de conciliar a vida profissional, pessoal, doméstica e maternal. Isto devido às contingências impostas pela pandemia provocada pela Covid-19. Agora, a dificuldade em cumprir o trabalho presencial já está a afetar seriamente o acesso ao mercado laboral por parte do género feminino.

De acordo com Catarina Cardoso, Gestora de Recursos Humanos e Consultora em processos de gestão, recrutamento e seleção de equipas, existe:

“…uma fragilização das relações laborais quer para com as pessoas que estavam a prazo, quer no caso das mulheres”.

A Gestora acrescenta ainda que o vírus vai fazer “retroceder algumas décadas para as mulheres e no que diz respeito ao mercado de trabalho”.

Foi possível observar também empresas que “nos dizem que não querem contratar mulheres porque veem que elas estão a ficar mais ausentes dos seus locais de trabalho”. Em termos de setor, esta observação parece suceder-se mais na indústria e não tanto nos serviços e em setores onde não é permitido o tele-trabalho. A Especialista garante que já foi confrontada diretamente com este caso ainda em situação de quarentena.

Segundo o que a Gestora Catarina Cardoso explica ao Delas.pt, a situação tem uma tendência para piorar. “Temo que as empresas, a médio ou longo prazo, tenham reticência na contratação de mulheres em novas admissões e nos postos de trabalho femininos”.

A fragilização do género feminino

Além disso, uma eventual nova vaga de Covid-19 poderá ter um impacto decisivo neste afastamento“Se se perspetivar que o primeiro trimestre do próximo ano letivo comece num sistema misto – com os pais a terem de permanecer, em parte, em casa e possivelmente num período temporal de mais de seis meses – tal vai fragilizar muito as mulheres.

Ainda que as pessoas não tivessem em regime de lay-off, a suspensão das aulas presenciais levou aos filhos a passar muito mais tempo com as mães. Isto também levou muitas mães a pedir licenças para ficar com os filhos em casa, pelo menos até ao final do ano letivo. Claro que as mulheres assumiram em grande maioria esse papel em detrimento dos homens, explica a Gestora Catarina Cardoso. E mesmo que os pais assumam esse papel, a Especialista relembra que as mulheres renovam o pedido de assistência, mas o homens tendencialmente não.

Sendo uma questão de mentalidade, a questão que fica é:

Como levar as empresas a promover que os homens assumam a dianteira familiar ou mesmo que eles próprios o façam? 

“É difícil levá-los a assumir estas matérias porque eles não estão tão sensíveis. É quase sempre a mulher – não é sempre – que fica a cuidar mais dos filhos, mais em casa, o que acaba por pôr mais em causa a situação do sexo feminino no trabalho”.

Pedidos de apoio da Segurança Social

É de relembrar que os pedidos de apoio da Segurança Social para pais com filhos menores de 12 anos – devido ao encerramentos das escolas – têm partido, essencialmente, de trabalhadores por conta de outrem. Foram registados 149.796 pedidos em março e 87.949 em abril, de acordo com os dados divulgados a 15 de maio. Já em relação aos trabalhadores independentes, o Gabinete de Estratégia e Planeamento do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social explica que foram entregues 20.120 pedidos em março e 8.058 no mês de abril. Por sua vez, os números dos trabalhadores domésticos apontam para uma queda entre os dois meses: de 2.358 para 1.783.

Numa perspetiva económica, Catarina Cardoso recorda também que as empresas precisam de pessoas para trabalhar, sendo que no setor industrial, é muito difícil porque as pessoas não estão muito motivadas para esse tipo de trabalhos sujos, com ambientes de trabalho mais ruidosos, horários de trabalho noturnos ou por turnos. A Gestora acrescenta ainda que “se já é complicado, quanto mais nestas situações em que são necessários serem feitos os planeamentos a médio ou longo prazo”.

Sendo assim, o que se pode fazer?

Catarina Cardoso frisa ainda que a lei é clara na condenação da discriminação. Porém, isto não impede que ela tenha lugar no mercado de trabalho. A lei  proíbe a discriminação, mas na prática já está a acontecer.

A Gestora também tem em conta que neste momento, não há mecanismos que impeçam a diferença de tratamento até porque sendo o mercado de trabalho livre, as empresas recrutam apenas o que pretendem. Como consultora, explica que a sua margem para intervir apenas decorre da sugestão. “Posso sempre sugerir, mas a decisão final é sempre do empregador. Tanto entrevisto homens como mulheres, mas a última palavra é deles”. A Inspeção do Trabalho sempre assumiu um papel de relevo na defesa da igualdade, “mas é óbvio que é sempre difícil de provar porque facilmente se conseguem arranjar outros argumentos para a seleção de pessoas que foi feita”.

Dessa forma, este tópico pela pela mudança da questão cultural e de mentalidade, principalmente porque “se calhar, noutros países mais desenvolvidos isto não aconteceria”. Mas mesmo assim já se começa a ver nas camadas mais jovens outra atitude e outro papel dos homens, finaliza.

 

Fonte: Delas

 

Saiba Mais:

Ainda que a lei condene a discriminação por género no acesso ao trabalho, existem empresas que estão a recusar contratar mulheres devido à Covid-19.

Está atualmente em regime de lay-off? Até que ponto compreende o que isto implica para si? Conheça o que este artigo tem para lhe explicar sobre a suspensão dos contratos de trabalho. Aproveite também a oportunidade para conhecer os seus direitos enquanto trabalhador.

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